Castelos, reis e comunidade: uma entrevista com a equipe por trás do Age of Empires IV

Ainda neste ano, Age of Empires IV dará início ao último capítulo desta longa e aclamada franquia do gênero RTS, nos remetendo à era dos castelos, reis e impérios. Como parte do evento Age of Empires: Fan Preview (confira a recapitulação completa aqui), tivemos a chance de sentar com o diretor de jogos da Relic Entertainment, Quinn Duffy, e o líder de narrativa Philippe Boulle, bem como a diretora de voz dos clientes, Emma Bridle, para falar mais sobre a próxima versão do jogo de estratégia, sua mistura única de história e jogabilidade e como sua comunidade apaixonada manteve a série viva por mais de duas décadas.


Xbox Wire: A Relic Entertainment tem um forte pedigree quando o assunto é a criação de excelentes jogos de estratégia (Company of Heroes, etc.). De onde vem a experiência que você está usando para desenvolver o Age of Empires IV? Existe um mantra de estúdio que você utiliza?

Quinn Duffy: Acho que o que estamos construindo essa pexperiência a partir da nossa mais forte abordagem aos jogos de estratégia históricos, e ligando a história e a autenticidade à jogabilidade. Queremos ter certeza de que estamos capturando a história e o que torna as civilizações em Age of Empires únicas, mas queremos também ser capazes de transformar isso em elementos de jogabilidade que sejam equilibrados, que sejam compreendidos pelos jogadores e que forneçam algumas opções divertidas para os fãs da franquia explorem nas novas civilizações.

Philippe Boulle: Sim, com certeza. Uma das coisas que fizemos em projetos anteriores, como Company of Heroes, foi tentar evocar um estilo de documentário, ou um estilo de filme de época. Desta vez, vimos que seria possível fazer isso. Poderíamos construir documentários de nível da BBC que levassem você a cada cenário e, a partir disso, costurar as missões para que você entendesse o contexto histórico.

Então, é essa atenção aos detalhes, a compreensão, que nos possibilitou celebrar as culturas, eventos e pessoas reais – sempre trazendo um senso de respeito, apreço e comemoração por esses momentos.

Acho que é isso que a Relic foi capaz de trazer para a mesa em uma franquia que já era maravilhosa, que tinha tantas coisas boas a seu favor. Não viemos aqui para fazer um jogo da Relic que tivesse o Age of Empires impresso nela. Estávamos aqui para fazer um jogo da série Age of Empires.

Xbox Wire: quais são as lições que você aprendeu ao rever as edições definitivas do Age of Empires? O que você viu nelas que ajudou no desenvolvimento do Age of Empires IV?

Quinn Duffy: Ah, muitas coisas. Creio que o desenvolvimento do Age of Empires IV seja anterior às edições definitivas também. Começamos antes que elas fossem lançadas, mas, jogando os jogos originais e a versão HD de Age II – que estava no Steam em 2013 -, fomos capazes de ver o ressurgimento de Age naquela época. Talvez não na profundidade total, mas o importante era envolver a comunidade e as pessoas que são apaixonadas por esses jogos. Você pode jogar esses títulos e encontrar coisas para apreciar, mas há fãs que os jogam há 20 anos, e que entendem todas as nuances e a fórmula do que torna o Age uma ótima experiência.

Então, em 2017, trouxemos a comunidade para perto e temos trabalhado com eles durante todo o desenvolvimento. São pessoas que jogaram Age I, II, III, Age Online, Mythology… Estão todos representados. Existem modders nesse grupo também, então tentamos capturar todos os aspectos da comunidade. E temos trabalhado muito com Forgotten Empires, que fez as edições definitivas dos jogos. Eles estão nos ajudando em uma série de aspectos do Age of Empires IV em termos de equilíbrio e como eles construíram os desafios do Art of War. Tenho certeza que Emma pode falar mais sobre isso também.

Emma Bridle: Sim, evoluindo as edições definitivas, executando-as como um serviço, adicionando novo conteúdo, reequilibrando e corrigindo conforme avançamos. Nós realmente aprendemos que a comunidade Age – não que não soubéssemos disso antes – é extremamente apaixonada e nos diz o que eles querem ver em nossos jogos. Isso significa construir ciclos de feedback realmente fortes, reunindo tudo o que eles estão nos dizendo, levando para as equipes de jogo e, em seguida, informando a comunidade sobre como evoluímos o jogo.

Foi um ótimo processo. Obviamente, ajuda a nos informar como administraremos o Age IV. Ter a comunidade realmente envolvida em cada jogo de alguma forma, seja por meio do Conselho [da Comunidade] ou no lançamento fornecendo esse feedback, nos ajudou para tornar os jogos melhores para nosso público. Eles ganham um lugar à mesa para o desenvolvimento e nós trabalhamos em parceria com eles. É tudo muito colaborativo entre Relic e Forgotten Empires, e também com todas as nossas equipes parceiras, a World’s Edge e a comunidade. Estamos todos trabalhando juntos, o que é maravilhoso.

Xbox Wire: sobre o tema do Conselho da Comunidade, obviamente parece que teve um tremendo impacto no desenvolvimento do Age of Empires IV. E parece que logo no início você percebeu a importância disso. Envolver a comunidade foi algo difícil de vender para a equipe de desenvolvimento?

Philippe Boulle: De forma alguma. Estamos cientes de que, se não fosse pela comunidade Age, não estaríamos fazendo Age of Empires IV. Eles são os reponsáveis por trazer essa franquia de volta. Foram eles que a mantiveram viva e seu coração pulsando. A ideia de fazer um jogo do Age of Empires sem a comunidade foi descartada desde o início. Foi importante para a Microsoft quando eles chegaram à Relic, e foi importante para a Relic quando começamos as conversas.

Em primeiro lugar, sem a comunidade, este título não estaria acontecendo. E também não não seria um jogo tão bom quanto é agora. Obviamente, houve anos de trabalho com o Conselho da Comunidade nos bastidores do Age IV, e isso é apenas um prelúdio de anos de trabalho futuro com a comunidade assim que ele for lançado.

Emma Bridle: Existem coisas tangíveis no jogo que são resultado do feedback do Conselho da Comunidade. Na verdade, emitimos uma tabela para eles, para manté-los por dentro do tema e período certos. Entendemos que eles estavam nos oferecendo tempo e energia fora de suas vidas pessoais e seus empregos, e nos comprometemos a garantir que eles soubessem quais mudanças estávamos fazendo, que impacto elas estavam tendo, como estavam moldando o jogo.

O feedback não estava indo para o vazio. Cada pedaço dele estava sendo digerido e levado para as equipes de jogo e revisado. Estamos realmente comprometidos em informá-los sobre as mudanças que fizemos para que saibam como estão desempenhando um papel importante na formação do jogo. E isso é tudo, desde a aparência dos ícones na IU até os sistemas de jogo. Então, eles realmente desempenharam um papel no projeto, como as pessoas verão à medida que avançamos para o lançamento.

Xbox Wire: o que vocês estão fazendo para dar as boas-vindas aos novos jogadores de Age of Empires que nunca jogaram um título da série, ou mesmo um RTS antes? Com o jogo chegando ao Xbox Game Pass, você terá um grande fluxo de jogadores. Como estão se preparando para isso?

Philippe Boulle: Tive o prazer de trabalhar em algumas das experiências iniciais para o jogador, e estamos tentando estender o tapete vermelho e receber pessoas que podem não estar familiarizadas com Age e jogos de estratégia.

Nós vamos guiá-los pela experiência do Age-up, aquele ponto central de diversão do Age que consiste em ir de uma pequena vila a uma grande cidade e desenrolar a mecânica do jogo no caminho. E então as campanhas servem como uma grande forma de introduzir as mecânicas. Você cria esse contexto histórico para que entender o que está acontecendo, enquanto apresentamos as diferentes partes do jogo – uma etapa de cada vez.

Claro, há pessoas que vão querer pular direto para o modo multiplayer ou para o confronto contra a I.A. Tudo isso está disponível para todos, mas acho que para os novatos, o ideal entrar em uma campanha histórica com esses filmes maravilhosos. Isso oferece o contexto necessário e, então, ajuda preparar o terreno para começar. Além disso, as missões são projetadas para permitir que você explore esse início em seu próprio ritmo.

Acho que receberemos um grande número de novos jogadores, certamente vindos do Xbox Game Pass. Mas penso que essa ideia central de diversão do Age, da mesma forma que tínhamos no Age I e II há 20 anos, vai nos ajudar a trazer esse público cativado pela narrativa histórica e pela conexão com suas próprias culturas. Assim como foi feito antes.

Xbox Wire: o retorno da série à Idade Média sempre teve a intenção de ser o foco de Age of Empires IV? Você pode entrar em detalhes sobre o que pesou nessa direção?

Quinn Duffy: Acho que minha primeira reação quando fui puxado para a sala para falar com a Microsoft sobre essa oferta de Age of Empires foi pensar em Age of Empires II. Essa é minha experiência formativa. Eu amei aquele período da história; há a amplitude do conteúdo, o surgimento de impérios literais de todo o mundo… Trata-se de uma grande fonte para extrair material. Parecia o lugar perfeito para começar uma nova plataforma do Age of Empires, e isso apenas por causa do número de histórias, o romantismo, a história emocionante do período; há um grande conflito entre grandes impérios. Imediatamente é para onde meu cérebro foi. E acho que a Microsoft tinha muitas das mesmas intenções. Eles viram o quão popular Age II era e sentiram que seria natural voltar para esse caminho.

Philippe Boulle: A amplitude da Idade Média nos dá muito com o que trabalhar. Existem tantas histórias para contar aí. É também um bom híbrido de histórias que ressoam diretamente com nossa experiência vivida. Você está falando sobre os eventos que criaram o que chamamos de Inglaterra. Isso é algo que ressoa nas pessoas e o mesmo vale para culturas de todo o mundo.

Mas também são muitas histórias sobre as quais não sabemos muito. Histórias dos mongóis e detalhes do motivo pelo qual os normandos invadiram a Inglaterra e assim por diante. Então, podemos contar aquelas que podem se relacionar com os dias de hoje, mas também surpreender e encantar as pessoas com novas perspectivas. Temos quatro campanhas históricas e oito civilizações no lançamento, cada uma delas representando mais uma história para contar. E isso é apenas o começo. Há um número infinito de mais temas para mergulhar nesse período.

Xbox Wire: como você determina o equilíbrio entre autenticidade e entretenimento ao recontar a história em Age of Empires IV?

Philippe Boulle: Isso é algo em que passamos muito tempo pensando. Trata-se de como poderemos celebrar essas culturas e a história da melhor maneira possível. Devemos pensar nos conceitos desse jogo, mas nossa apresentação da história é mais do que apenas a experiência minuto a minuto. Também temos os filmes que o são apresentados durante a campanha, com materiais adicionais para contextualizar o período.

Então, em relação a essas coisas documentais, nós realmente queríamos nos esforçar para entregar o mais alto nível de autenticidade, ecoando a melhor compreensão desses períodos. Trabalhamos com historiadores, documentaristas e especialistas em armas medievais para acertar de fato. Quando se tratava da jogabilidade momento a momento, queríamos usar todos esses fatos históricos como inspiração e motivação para criar as experiências de jogo. O que torna uma civilização única, o que torna especial uma batalha histórica em particular… Queríamos nos apoiar nessas coisas. Mas também precisamos nos certificar de que você possa ver suas unidades em campo, de entender quais são suas capacidades e de que a jogabilidade seja atraente, divertida e equilibrada. Essa é sempre uma grande discussão.

Sinceramente, sinto que a história foi muito mais um bem do que algo que tivemos que contornar. Foi algo que inspirou muitas dessas escolhas de design. Então, acabamos com uma jogabilidade que comemora essas culturas e essa história. Tudo em conjunto com os filmes que acompanham as campanhas.

Xbox Wire: pode falar de algumas das etapas percorridas para garantir que todas as culturas apresentadas em Age of Empires IV sejam representações autênticas, e de que suas histórias sejam consideradas?

Philippe Boulle: Trabalhamos com especialistas culturais e lingüísticos, além de historiadores ligados a essas culturas. Tivemos conversas com eles, apresentando nossas ideias, levando novas ideias a partir delas e trabalhando para garantir que estaríamos sempre chegando a essas culturas com aquele espírito de exaltação delas. Queremos mostrar o que torna cada uma dessas culturas magníficas, o que as faz ressoar hoje. Queremos fazer isso de uma forma que ecoe para as pessoas que se identificam com essas culturas.

[Por exemplo] usamos dubladores mongóis, da Mongólia, para fazer todas as vozes. Trabalhamos com músicos mongóis, com historiadores e especialistas em cavalos na Mongólia para alinhar todas essas ideias. E fizemos isso com todas as culturas. A ideia é criar uma espécie de ressonância cultural que se identifique como parte da cultura ou se veja como um descendente dela. Você vê elementos de si mesmo e sente que estamos acertando. Se não estiver, então você está descobrindo algo novo. Esperamos que isso ressoe em todas as civilizações.


Um agradecimento especial a Quinn, Philippe e Emma por falarem conosco. Teremos mais para compartilhar sobre o Age of Empires IV nos próximos meses, conforme nos aproximarmos de sua data de lançamento no final deste ano. Certifique-se de verificar o nosso Recap do Age of Empires: Fan Preview, para conferir mais informações e atualizações relacionadas ao Age. Além disso, confira o Xbox Wire para encontrar as últimas notícias sobre jogos para Xbox e Windows 10 PC.